Já ouviu falar sobre endometriose?
Os números são altos. Mais de 170 milhões de mulheres no mundo apresentam endometriose, em sua fase reprodutiva, segundo dados do World Endometriosis Research Foundation. A Associação Brasileira de Endometriose estima que 7 milhões de brasileiras fazem parte desta estatística. E você, já ouviu falar desta doença?
O ginecologista Paulo Padovani, diretor do Centro de Reprodução Humana de Piracicaba, informa que a endometriose é uma doença crônica, que afeta aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva e é responsável por 20% dos casos de infertilidade feminina. “É a doença da mulher moderna, que demora para ter filhos e se vê na obrigação de dar conta de vários papéis em casa e no trabalho. Este perfil a deixa estressada, com baixa imunidade e mais propensa a ter a endometriose”, afirma. “A doença não tem cura definitiva, mas os tratamentos podem permitir uma melhor qualidade de vida”, declara.
Nesta entrevista, o ginecologista responde às principais dúvidas sobre a doença.
– O que é endometriose?
A endometriose é uma doença que se caracteriza pela presença de focos do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) fora do útero, podendo atingir o peritônio (membrana altamente inervada que reveste órgãos internos e superfície interna da cavidade abdominal), trompas, ovários, intestino, bexiga, e, em casos menos comuns, até pulmão e nariz.
– Quais os sintomas da doença?
Cólicas menstruais fortes, que não melhoram com o uso da pílula, e dor na relação sexual são fortes indícios de que a mulher está com endometriose. A lista de sintomas também pode incluir dor difusa ou crônica na região pélvica, fadiga crônica, sangramento menstrual intenso ou irregular, alterações intestinais ou urinárias durante a menstruação, dificuldade para engravidar e infertilidade. Em alguns casos, a endometriose é assintomática e a mulher só descobre que tem o problema quando decide ter filhos e não consegue engravidar.
– A doença é hereditária?
Existem poucos estudos que fazem essa associação, já que, no passado, com a falta de exames, a doença não era diagnosticada. Hoje, sabemos que quando há um parentesco com portadores da endometriose, há um maior risco para a mulher desenvolvê-la.
– A endometriose é ou pode se tornar um câncer?
A endometriose é uma doença benigna. Nenhum estudo mostrou relação importante entre a endometriose e o câncer ou evolução para uma doença maligna. Porém existem casos nos quais se nota uma agressividade muito grande do desenvolvimento da doença e merecem mais estudos para se esclarecer o verdadeiro motivo.
– Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da endometriose deve ser feito com base na história clínica, sintomas da paciente, além de exames, como a ultrassonografia__para verificar se existe endometrioma (foco de endometriose que cresceu no ovário e formou um cisto)__e videolaparoscopia.
– Qual o tratamento?
O tratamento é feito em várias etapas, começando pelo estadiamento das lesões, com posterior retirada (quando for o caso), suspensão da menstruação por meio de medicamentos e mudança de comportamento da paciente. Por isso, os médicos sugerem acompanhamento psicológico.
– Quais as causas da endometriose?
As causas da endometriose ainda são desconhecidas para a medicina. Uma das teorias é relacionada ao fator imunológico. Na mulher com endometriose, as células natural killer __ responsáveis pela defesa do organismo __não estariam cumprindo sua função. Outra versão é de que a doença seria provocada no desenvolvimento embrionário.
– Mulheres jovens podem ter endometriose?
Qualquer mulher pode ter endometriose a partir da primeira menstruação até a menopausa. A doença atinge sempre mulheres em período reprodutivo e pode surgir após as primeiras menstruações. Os sintomas se intensificam, geralmente, entre os 25 e 35 anos.
– Quem tem endometriose pode engravidar?
A endometriose mínima e leve geralmente não atrapalha a obtenção da gravidez. É importante destacar que sempre se dá à paciente com endometriose a oportunidade de conseguir a gestação de forma espontânea. Quando isso não ocorre, a reprodução assistida pode auxiliar, com tratamentos de baixa complexidade (coito programado e inseminação intrauterina) ou alta complexidade (fertilização in vitro).
Para endometriose moderada, há a possibilidade de tentar a inseminação artificial. Para os casos graves, é indicada a fertilização in vitro. A decisão é tomada pelo especialista de acordo com o resultado dos exames. Em casos mais graves, o tratamento pode ter a opção de primeiro passar por cirurgia, para remover endometriomas, ficar sem menstruar por um período __ utilizando medicação___, receber posteriormente estímulo para ovular e fazer fertilização in vitro. Pode ter também a opção de ir direto para a fertilização in vitro, coletando os óvulos antes do tratamento da doença. Cada caso deve ser personalizado e decidido em conjunto com a paciente.
– A endometriose tem cura?
A endometriose é uma doença crônica, que não cura definitiva. Os tratamentos, com equipe multidisciplinar, garantem qualidade de vida às pacientes, principalmente porque a endometriose envolve questões de ordem comportamental e psíquica. A doença regride espontaneamente na menopausa, com o fim das menstruações.
Jornalistas responsáveis: Flávia Paschoal/Marisa Massiarelli Setto – Toda Mídia Comunicação

Dr. Paulo Arthur Machado Padovani
- Formado pela Faculdade de Medicina de Jundiaí
- Pós-graduado lato-sensu pela Faculdade de Medicina de Jundiaí e Associação Instituto Sapientiae
- Especialista em ginecologia e obstetrícia, e habilitação em laparoscopia
- Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida
- Possui título de Capacitação em Reprodução Assistida emitido pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida